01/12/2025

Por que a Economia Informal é tão importante para a comunidade — e o que você, empreendedor, precisa entender sobre ela

No Brasil, uma parte enorme das atividades econômicas acontece de forma informal: sem CNPJ, sem emissão de nota e, muitas vezes, sem qualquer tipo de registro. Seja o ambulante que vende café na praça, a costureira que trabalha em casa, o pedreiro que faz serviços por dia, ou até aquele comércio doméstico que aceita só dinheiro — todos fazem parte da chamada economia informal.

E por mais que muita gente pense nela apenas como um “problema”, a verdade é que a informalidade tem um papel muito maior (e mais complexo) na vida das cidades. Para quem acompanha o Dicas do Contador, entender esse fenômeno é fundamental para tomar decisões melhores como empreendedor.


Afinal, o que é a economia informal?

É a atividade econômica que acontece sem registro oficial, mas que é legal.
Ou seja: o trabalho não é crime, mas é realizado fora das regras do Estado (sem CNPJ, sem nota fiscal, sem INSS, sem alvará, etc.).


Por que a economia informal importa tanto para as comunidades?

1. Ela garante renda imediata para milhares de famílias

A informalidade absorve rapidamente quem perdeu renda, quem está recomeçando e quem ainda não tem capital para abrir um negócio formal. Para muitas famílias, é literalmente a diferença entre ter renda ou não ter.

2. Ela mantém o dinheiro circulando no bairro

Cada compra feita do vizinho ou do prestador de serviço local faz o dinheiro girar dentro da comunidade. Isso gera emprego, demanda e novas oportunidades — mesmo sem registro contábil.

3. Ela fortalece laços sociais

A economia informal funciona na base da confiança:
“fala com o João”, “chama a Dona Maria”, “o rapaz do conserto”.
Essas relações fortalecem o tecido social.

4. Ela é a porta de entrada para o empreendedorismo

Muitos negócios começam pequenos, sem estrutura e sem formalização — e isso não é necessariamente ruim. É um espaço de teste, validação e aprendizado.


Mas a informalidade também tem seus desafios…

1. Sem CNPJ, falta segurança

Um imprevisto de saúde ou queda na demanda pode desestruturar a família inteira.

2. Dificuldade de crescer

Sem formalização, o empreendedor não acessa crédito, não presta serviço para empresas e não abre portas maiores.

3. Concorrência desigual

Quem é formalizado tem custos que o informal não tem.

4. Menor arrecadação municipal

E isso significa menos serviços públicos para a própria comunidade.


O limite do MEI: uma barreira que deveria ajudar, mas acaba engessando muita gente

O MEI nasceu como solução brilhante: simples, barato, acessível e perfeito para tirar milhões de pessoas da informalidade.
Mas há um problema que todo pequeno empreendedor conhece bem:

O limite de faturamento do MEI é baixo para algumas atividades — e trava quem quer crescer.

Hoje, o teto anual do MEI é R$ 81 mil, o que dá aproximadamente R$ 6.750,00 por mês.

Para muitas atividades de serviço (manicure, eletricista, fotógrafo, mecânico, consultor, vendedor ambulante estruturado), esse limite é rapidamente alcançado quando o profissional conquista uma agenda cheia.

E aí surgem os efeitos perversos:

  • O empreendedor tem medo de emitir nota.

  • Começa a dividir recebimentos no CPF para “não estourar o limite”.

  • Evita pegar clientes maiores.

  • Trabalha com receio de crescer.

  • Fica preso numa espécie de “teto psicológico”.

Resultado:
o limite, que deveria estimular a formalização, acaba empurrando parte da atividade novamente para a informalidade.

Em outras palavras:
O empreendedor quer crescer, mas a regra o força a “não ultrapassar”.

Esse comportamento não é culpa do profissional — é efeito de um sistema mal calibrado para a realidade do microempreendedor brasileiro.


E a fiscalização do PIX? Uma faca de dois gumes

Com o avanço da digitalização, muitos pequenos negócios adotaram o PIX como principal forma de recebimento. Ele é rápido, gratuito e prático.

Mas surge outro problema:

A preocupação com a fiscalização do PIX está gerando medo e retração nos pequenos empreendedores.

Muitos microempreendedores:

  • Recebiam informalmente no PIX,

  • Começaram a ter medo de que cada transação seja “suspeita”,

  • Passaram a restringir vendas,

  • Voltaram a preferir dinheiro físico,

  • Evitam declarar movimentações maiores.

Isso gera duas consequências perigosas:

1. Reduz a confiança no sistema financeiro

O empreendedor opta por soluções menos seguras só para “não chamar atenção”.

2. Incentiva a informalidade por medo, não por opção

Quando a regra é percebida como ameaça — e não como controle legítimo — o profissional foge da formalização, não corre para ela.

E é importante dizer:
não é o PIX o problema — é a sensação de que qualquer movimentação pode ser interpretada como irregular, criando incerteza para quem está apenas tentando sobreviver e crescer.


Então qual é o caminho?

A chave está no equilíbrio:

  • menos burocracia,

  • limites mais realistas para o MEI,

  • orientação clara sobre recebimentos digitais,

  • mais educação financeira e contábil,

  • fiscalização que oriente, e não assuste.

Formalizar precisa parecer vantagem, não armadilha.

E o contador tem papel fundamental para mostrar caminhos seguros, orientar decisões e dar clareza ao microempreendedor.


Conclusão: a informalidade é parte da vida — mas não precisa ser destino

A economia informal alimenta bairros, cria oportunidades e sustenta famílias — mas só a formalização dá segurança, crescimento e futuro.
O MEI é uma ferramenta poderosa, mas precisa evoluir.
O PIX é um aliado, mas precisa de regras mais claras.

E o empreendedor local precisa de informação, orientação e confiança para tomar decisões melhores.

No Dicas do Contador, nosso compromisso é justamente esse:
traduzir a complexidade e ajudar o microempreendedor a crescer com segurança.

 

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