No Brasil, uma parte enorme das atividades econômicas acontece de forma informal: sem CNPJ, sem emissão de nota e, muitas vezes, sem qualquer tipo de registro. Seja o ambulante que vende café na praça, a costureira que trabalha em casa, o pedreiro que faz serviços por dia, ou até aquele comércio doméstico que aceita só dinheiro — todos fazem parte da chamada economia informal.
E por mais que muita gente pense nela apenas como um “problema”, a verdade é que a informalidade tem um papel muito maior (e mais complexo) na vida das cidades. Para quem acompanha o Dicas do Contador, entender esse fenômeno é fundamental para tomar decisões melhores como empreendedor.
Afinal, o que é a economia informal?
É a atividade econômica que acontece sem registro oficial, mas que é legal.
Ou seja: o trabalho não é crime, mas é realizado fora das regras do Estado (sem CNPJ, sem nota fiscal, sem INSS, sem alvará, etc.).
Por que a economia informal importa tanto para as comunidades?
1. Ela garante renda imediata para milhares de famílias
A informalidade absorve rapidamente quem perdeu renda, quem está recomeçando e quem ainda não tem capital para abrir um negócio formal. Para muitas famílias, é literalmente a diferença entre ter renda ou não ter.
2. Ela mantém o dinheiro circulando no bairro
Cada compra feita do vizinho ou do prestador de serviço local faz o dinheiro girar dentro da comunidade. Isso gera emprego, demanda e novas oportunidades — mesmo sem registro contábil.
3. Ela fortalece laços sociais
A economia informal funciona na base da confiança:
“fala com o João”, “chama a Dona Maria”, “o rapaz do conserto”.
Essas relações fortalecem o tecido social.
4. Ela é a porta de entrada para o empreendedorismo
Muitos negócios começam pequenos, sem estrutura e sem formalização — e isso não é necessariamente ruim. É um espaço de teste, validação e aprendizado.
Mas a informalidade também tem seus desafios…
1. Sem CNPJ, falta segurança
Um imprevisto de saúde ou queda na demanda pode desestruturar a família inteira.
2. Dificuldade de crescer
Sem formalização, o empreendedor não acessa crédito, não presta serviço para empresas e não abre portas maiores.
3. Concorrência desigual
Quem é formalizado tem custos que o informal não tem.
4. Menor arrecadação municipal
E isso significa menos serviços públicos para a própria comunidade.
O limite do MEI: uma barreira que deveria ajudar, mas acaba engessando muita gente
O MEI nasceu como solução brilhante: simples, barato, acessível e perfeito para tirar milhões de pessoas da informalidade.
Mas há um problema que todo pequeno empreendedor conhece bem:
O limite de faturamento do MEI é baixo para algumas atividades — e trava quem quer crescer.
Hoje, o teto anual do MEI é R$ 81 mil, o que dá aproximadamente R$ 6.750,00 por mês.
Para muitas atividades de serviço (manicure, eletricista, fotógrafo, mecânico, consultor, vendedor ambulante estruturado), esse limite é rapidamente alcançado quando o profissional conquista uma agenda cheia.
E aí surgem os efeitos perversos:
-
O empreendedor tem medo de emitir nota.
-
Começa a dividir recebimentos no CPF para “não estourar o limite”.
-
Evita pegar clientes maiores.
-
Trabalha com receio de crescer.
-
Fica preso numa espécie de “teto psicológico”.
Resultado:
o limite, que deveria estimular a formalização, acaba empurrando parte da atividade novamente para a informalidade.
Em outras palavras:
O empreendedor quer crescer, mas a regra o força a “não ultrapassar”.
Esse comportamento não é culpa do profissional — é efeito de um sistema mal calibrado para a realidade do microempreendedor brasileiro.
E a fiscalização do PIX? Uma faca de dois gumes
Com o avanço da digitalização, muitos pequenos negócios adotaram o PIX como principal forma de recebimento. Ele é rápido, gratuito e prático.
Mas surge outro problema:
A preocupação com a fiscalização do PIX está gerando medo e retração nos pequenos empreendedores.
Muitos microempreendedores:
-
Recebiam informalmente no PIX,
-
Começaram a ter medo de que cada transação seja “suspeita”,
-
Passaram a restringir vendas,
-
Voltaram a preferir dinheiro físico,
-
Evitam declarar movimentações maiores.
Isso gera duas consequências perigosas:
1. Reduz a confiança no sistema financeiro
O empreendedor opta por soluções menos seguras só para “não chamar atenção”.
2. Incentiva a informalidade por medo, não por opção
Quando a regra é percebida como ameaça — e não como controle legítimo — o profissional foge da formalização, não corre para ela.
E é importante dizer:
não é o PIX o problema — é a sensação de que qualquer movimentação pode ser interpretada como irregular, criando incerteza para quem está apenas tentando sobreviver e crescer.
Então qual é o caminho?
A chave está no equilíbrio:
-
menos burocracia,
-
limites mais realistas para o MEI,
-
orientação clara sobre recebimentos digitais,
-
mais educação financeira e contábil,
-
fiscalização que oriente, e não assuste.
Formalizar precisa parecer vantagem, não armadilha.
E o contador tem papel fundamental para mostrar caminhos seguros, orientar decisões e dar clareza ao microempreendedor.
Conclusão: a informalidade é parte da vida — mas não precisa ser destino
A economia informal alimenta bairros, cria oportunidades e sustenta famílias — mas só a formalização dá segurança, crescimento e futuro.
O MEI é uma ferramenta poderosa, mas precisa evoluir.
O PIX é um aliado, mas precisa de regras mais claras.
E o empreendedor local precisa de informação, orientação e confiança para tomar decisões melhores.
No Dicas do Contador, nosso compromisso é justamente esse:
traduzir a complexidade e ajudar o microempreendedor a crescer com segurança.

Nenhum comentário:
Postar um comentário